Época de fogo da TV brasileira: quando vai acabar? (Parte I)

Pois bem, meus amigos. Na satisfação de um dever outrora cumprido, venho dizer-lhes: vai acabar a época de fogo da televisão nacional. Eu disse em 2014 que ela começaria, mas não disse quando, como ou porque acabaria (vide artigo "CONFISSÕES: Previsões televisivas (não-astrais)", no blog Variante). Pelo menos não que eu me lembre. Se não disse antes, é porque a hora de dizer como, quando e porque acabaria a famigerada época de fogo não havia chegado. Mas chegou. E é hoje.

Antes, porém, é necessária uma análise geral. Há três emissoras grandes (SBT, RecordTV e Globo) e duas medianas com aparência de rede grande (RedeTV e Band). De todas as citadas, a única que teve um crescimento real em audiência e faturamento foi a Globo.

O plano de contenção de gastos da Rede Globo remodelou os contratos a longo prazo de atores e atrizes (muitos agora contratados por obra), cortou boa parte dos privilégios de alguns medalhões e até William Bonner saiu da condição de pessoa jurídica pra ganhar como física. E vejam que coisa: a construção dos Estúdios MG4, que muita gente achou que consumiu boa parte da receita, deu ainda mais prestígio à líder.

As demais não só ignoraram uma hipótese de fazer um plano pra sair da crise como também continuam com suas administrações arcaicas e relutantes em mudanças organizacionais. A Band, por exemplo, foi a mais prejudicada em 2018. E pior: embora em 2019 fosse a que mais lançou novidades reais, não deu muita audiência e corre o risco de ser a 5ª maior emissora do país. A RedeTV pode ser a 4ª maior do país mas, como eu já disse várias vezes, é uma fábrica de encher linguiças.

A RecordTV e o SBT fazem de tudo e mais um pouco pra tirar a audiência da Globo. Mas eles são o Palmeiras no Brasileirão: só "seguem o líder". E seguem mal, porque copiaram só as estratégias de programação. O respeito integral aos profissionais e a noção em pesquisar e colocar no ar o que o povo realmente quer? Não, isso não copiaram. Fora as estratégias de programação, falam mal (e muito). Mas volto a parafrasear o saudosíssimo Luciano do Valle: "Quem fala mal da Globo, não conhece televisão".

Aliás, desde que Luciano do Valle morreu, a Band só tomou decisões precipitadas: manteve o Pânico Na Band no ar por cinco anos, embora eles tenham mais credibilidade no rádio que na televisão (a fase atual comprova isso); tirou o CQC do ar, sendo este o melhor programa que a grade já teve (pelo menos até 2019), e mesmo se quisesse, não poderia colocá-lo no ar outra vez porque, analisando friamente, a atração perdeu sua real essência em 2014; colocou várias atrações que não deram certo no ar, das quais a única que ainda se mantém no ar é o Melhor da Tarde, que infelizmente não extraiu o sumo do talento de Cátia Fonseca, contratada a peso de ouro pela Band; lançou mão de um telejornal às 22h para impulsionar a faixa nobre, quando devia era tirar R. R. Soares da grade ou jogá-lo no lugar de tapas-buraco como +Info e Vídeos Incríveis, que para nosso pesar seguem vigentes.

Isso aconteceu por causa das frequentes brigas entre os herdeiros Saad (Johnny e suas irmãs). É como eu costumo dizer: herança é aquilo que o morto deixa pros vivos se matarem entre si. E não se sabe se essa frase, que já pegou na Band, vá ser uma praga a mais para o Sistema Brasileiro de Televisão, vulgo SBT. Silvio Santos, dono do dito sistema, não está muito bem de saúde. Da mental, já se sabia que não estava. O que esperar de uma "mente brilhante" que insiste em erros como A Rosa dos Milagres / Milagres de Nossa Senhora e Alarma TV mesmo sabendo que não vai dar certo, mantém no ar o Fofocalizando e insiste em manter Poliana por mais um ano, correndo o risco de ver as duas atrações empatando nas médias?

Agora, ele está com a saúde física em alerta, com fortes gripes que aos poucos podem se transformar em pneumonia grave. Nessa hipótese os SBTistas não querem pensar nem em sonho, pois realmente acreditam que Silvio Santos é um semideus e, por isso, não pode morrer nunca. Dá pra notar que, se fossem centrados em se preocupar mais com a situação catastrófica das receitas (e da grade) do SBT e menos com Silvio, veriam a realidade do sistema: Silvio pode morrer a qualquer momento, assim como eu, você e os SBTistas. Só o Criador sabe do amanhã, não?

A RecordTV também passa por crises organizacionais. Antonio Guerreiro e Rogério Gallo são, a priori, os piores gestores de jornalismo e entretenimento que já passaram pela emissora. E a IURD cada vez mais vem se metendo na programação, representada pelo casal blindado Renato e Cristiane Cardoso. Colocá-los no nível de profissionais que já passaram pela rede, tais como Blota Júnior, Hélio Ansaldo e até o Bispo Honorilton, seria uma ofensa monstra à história gloriosa da Record. Fico até agora pensando: não foi o Bispo Macedo que, no ato da compra da então TV Record, disse que a emissora seria totalmente independente da Igreja Universal do Reino de Deus? Por que, então, permite que seu genro e sua primogênita estraguem aos poucos o patrimônio que ele reconstruiu, apesar de tudo?

Atrações como Balanço Geral e Cidade Alerta não vão de acordo com os ensinamentos dos bispos, mas provavelmente não vão ser limados da grade, pelo menos por enquanto. Embora Fabíola Reipert não tenha o respeito de Guerreiro e Gallo assim como o tem a recém-chegada Mariana Weickert, os dois programas ainda se mantém no ar. Aliás, RecordTV, RedeTV e SBT apoiam Bolsonaro escancaradamente, principalmente depois que a primeira decidiu pelo apoio ao capitão caverna. Mais sorte ainda dos bispos da RecordTV que o Crivella deu uma dentro acabando com o pedágio, ou não iam evitar o impeachment mais do que certo do mesmo. E isso que falam da Globo, hein!

Falando em Globo, no que tange a estratégias de programação, a dita cuja anda devendo. Se é uma humilhação perder a liderança no horário da tarde para a RecordTV, por que tanta resistência em uma mudança mais radical na grade? Se não querem perder a posição que tem (e que demoraram cinco anos para conquistar), por que se acomodarem justo agora, quando deviam manter a primeira posição até mesmo aí? Vai ver Chico Anysio estava certo quando disse uma frase que o colocou numa geladeira braba. Ele errou apenas nas atrações. Se estivesse vivo em 2019, Chico diria: "Vídeo Show saiu do ar 10 anos adiantado; Segunda Chamada entrou no ar 10 anos atrasado; Se Joga foi um erro de projeto".
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Na segunda parte (próxima postagem): vocês vão saber como e quando a época de fogo da TV nacional vai acabar. Guenta aí!

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