O ciclo infinito dos remakes mexicanos
Só três produtores, dos quais dois ainda ativos no horário nobre, capitalizam a atenção da audiência com remakes entre si
Este artigo que se segue pode parecer, para muitos, uma teoria da conspiração. Porém, o que publico aqui é mais do que uma simples coincidência. Tudo começou lá nos anos 90, quando, em 1995, José Alberto Castro levava ao ar sua segunda telenovela como produtor executivo, Acapulco Cuerpo y Alma, que nada mais era que um remake de Tú o Nadie (que foi exibida no SBT em 1987 com o nome Só Você), uma novela produzida 10 anos antes pelo Sr. Telenovela Ernesto Alonso. Eis que, em 2009, a mesma história, agora sob a produção de Carla Estrada e adaptada por María Zarattini (que escreveu a obra original), foi levada ao ar pela Televisa com o nome de Sortilégio (também exibida pelo SBT em 2014 e reprisada em 2017 e 2023). E como era de se esperar, a mesma história, pela quarta vez, foi reescrita por, adivinhem… José Alberto Castro, que baseou sua adaptação mais em Acapulco Cuerpo y Alma que em Tú o Nadie e concebeu a novela Cabo.
Reparem como Carla Estrada e José Alberto Castro puxam um ao outro: em 1996, Carla produziu Sigo Te Amando (exibida pelo SBT em 2000), que era um remake de Monte Calvario, novela escrita por Delia Fiallo e produzida por Valentín Pimstein em 1986. Em 2011, José Alberto produziu A Que Não Podia Amar (exibida pelo SBT em 2019), remake da mesma história. E eis que, em 2025, surge o terceiro personagem desse ciclo infinito: Juan Osorio, cuja produção mais recente, Amanecer, é o terceiro remake de Monte Calvario produzido no México.
Vocês não entenderam ainda? Vou dar um outro exemplo envolvendo Carla Estrada e José Alberto Castro: em 1985, Delia Fiallo escreveu, para a RCTV na Venezuela, a telenovela Cristal (que ganhou um remake no SBT em 2006). Em 1998, esta novela foi adaptada para o México por Liliana Abud e produzida por Carla sob o nome de O Privilégio de Amar (que foi exibida pelo SBT em 1999 e reprisada em 2002, 2008 e 2014) e que é, até hoje, uma das recordistas de audiência em todos os tempos da história da Televisa. Desconsiderando o refake produzido por Salvador Mejía para esta história em 2010 (Triunfo do Amor, exibida pelo SBT na temporada 2020-21), em 2025 José Alberto produz mais um remake de Cristal, agora sob o nome de Los Hilos del Pasado, que estreou primeiro nos Estados Unidos, pela Univision, e vai chegar ao canal principal da Televisa, o Las Estrellas, dia 27 de outubro.
E, assim como Carla Estrada puxa José Alberto Castro, este último puxa Juan Osorio. Não atoa, o ciclo vital dos remakes é este: Valentín Pimstein produz uma novela rosa; Carla produz um remake desta; José Alberto produz um remake baseado no remake de Carla e humaniza o vilão; Osorio produz um terceiro remake baseado um pouco nos outros dois, com o protagonista original assumindo o rol de vilão e vice-versa. Me surpreende como Juan Osorio não produziu ainda um remake de Tú o Nadie. Quer dizer… há rumores de que Osorio vai produzir um quarto remake de Teresa, cuja obra já foi revisitada em 2010 justamente por José Alberto Castro. Ou seja: como dois produtores tão distintos um do outro conseguem produzir obras tão iguais e, ao mesmo tempo, tão diferentes?
E, casualmente, pelos motivos mais estranhos possíveis, tanto José Alberto como Osorio têm sido os mais ativos produtores da Televisa na atualidade e os que, de alguma forma, mais conseguem chamar a atenção do público com suas produções. Ambos passaram por escolas diferentes. Enquanto José Alberto começou sendo gerente de produção dos programas de sua irmã mais velha, a show-woman Verónica Castro, incluindo-se aí a novela Mi Pequeña Soledad, que ela produziu e protagonizou, só passando a produzir telenovelas em 1993 com a fracassada novela Valentina, protagonizada por Verónica, Juan Osorio começou como ajudante de produção, passando a gerente em 1986 na equipe de Gonzalo Martínez Ortega. Curiosamente, Gonzalo acabou se tornando diretor de cena de Osorio em suas duas primeiras produções, El Padre Gallo, já em 1986, y Tal Como Somos, no ano seguinte.
Ambos tem vários enormes sucessos e alguns fracassos que não dá pra contar. Mas é inegável que tiveram a quem puxar: Carla Estrada, que começou a produzir novelas em 1986 e, já no ano seguinte, sob a sua batuta, ter o primeiro sucesso pra chamar de seu: Quinceañera (que foi exibida no SBT em 1991, sob o nome Quinze Anos, e pela CNT em 1997, sob o nome Meus Quinze Anos). É das obras que Carla produziu (e que fazem sucesso até hoje) que os remakes mais recentes passam pelas mãos de José Alberto Castro e Juan Osorio. Entenderam agora?!