Las Tres Marías: uma síntese do boom da trilogia de Thalía [ARTIGO 200]

Como fazer de três novelas praticamente iguais um sucesso diferente do outro?


Pois é, meus amigos. 200 artigos falando sobre televisão ou assuntos correlatos neste blog e, praticamente, este é o primeiro em que abordo, de maneira profundamente comentada, uma novela. Aliás, uma não... três novelas ao mesmo tempo!

Hoje em dia, Thalía não esconde que largou a atuação. Mas se levarmos em conta que ela foi a estrela principal de três das maiores audiências dos anos 90 na Televisa, fica meio difícil de entender o ranço. O fracasso em solo mexicano de Rosalinda (1999) é inexplicável, já que o nome dela unido ao de Fernando Carrillo ajudou a trama a bater recordes que nunca alcançou no Canal de las Estrellas.

Mas fica a dúvida: como é que três novelas clássicas bateram tantos recordes dentro e fora do México? É tentando responder a essa pergunta que, no artigo 200 deste despretensioso blog, vamos analisar profundamente as coincidências que unem "as três Marias": María Mercedes, Marimar e Maria do Bairro.
  1. Um produtor de sucesso. Valentín Pimstein, sem sombra de dúvidas, sempre será lembrado pelas novelas rosas que produziu ou interviu. E aqui, não é diferente: Pimstein produziu María Mercedes e interviu em Marimar, produzida por sua filha Verónica, e Maria do Bairro, produzida por Angelli Nesma Medina. Se não fosse pela mão forte de Pimstein, talvez os quesitos seguintes nada valeriam.
  2. Uma adaptação segura. Nas "Tres Marías", os roteiros ficaram a cargo de Carlos Romero, que é até hoje o adaptador mais fiel de Inés Rodena. Carlos, inclusive, assim que Marimar terminou, rumou pra Venezuela, onde ajudou Alberto Gómez a escrever uma boa parte de Cómo Tú, Ninguna, primeira novela protagonizada por Gabriela Spanic, e na volta ao México convenceu o amigo a colaborar com alguns roteiros de Maria do Bairro. E Carlos escrevia as novelas produzidas por Valentín Pimstein desde a segunda parte de Os Ricos Também Choram, que foi a base da adaptação de Maria do Bairro.
  3. O fator Thalía. Valentín Pimstein confiou tanto no talento da cantora, que começara de fato como atriz sob a produção de Carla Estrada em Pobre Señorita Limantour, uma novela que só é lembrada pelos bastidores tumultuados. Thalía então foi chamada para protagonizar a clássica Quinceañera ao lado de Adela Noriega e deu certo. Mas a experiência seguinte, a obscura Luz y Sombra (e obscura até no nome), na qual ela teve sua primeira protagonista solo, não foi tão boa como se esperava. Então, ela focou na crescente carreira de cantora solo. Mas ela voltou à atuação no momento em que Pimstein esperava um sucesso tão grande como o de Rosa Selvagem, que foi o bilhete azul para a volta triunfal ao México de Verónica Castro. E bastaram três novelas pra comprovar a popularidade da "cantriz". Claro que ela não segurou o peso da atuação sozinha.
  4. Vilania de luxo. Há que se destacar aqui duas vilãs importantíssimas nessa trilogia: Malvina e Soraya Montenegro. Em María Mercedes, por exemplo, Malvina foi interpretada pela primeira atriz Laura Zapata, irmã de Thalía na vida real e expert em vilãs exageradas. A primeira vilã que interpretou e ficou marcada pela caricatura foi Dulcina, em Rosa Selvagem. Com Malvina, não foi diferente: uma vilã obstinada, acima de tudo, pelo dinheiro e pelo status, tanto que ofuscou as demais antagonistas da trama. E em Maria do Bairro, muito se desdenhou de Itatí Cantoral, atriz que vinha de Dos Mujeres, Un Camino (sobre a qual fiz um resumo e uma ligeira análise no meu inativo blog Romances Mexicanos) e outras experiências das quais era mera coadjuvante. Mas bastou começar a história pra se certificar de que foi um acerto e tanto. Assim como a saudosa primeira atriz María Rubio já havia feito em Cuna de Lobos, eternizando Catalina Creel (tanto que ela jamais se livrou do estigma de ter interpretado "a mãe de todas as vilãs), Itatí eternizou Soraya Montenegro de tal maneira que, sempre que interpreta uma protagonista no México, torcem o nariz pra ela, sempre desejando que ela seja só a vilã da história. Não querendo desmerecer aqui a Angélica interpretada por Chantal Andere em Marimar, mas com o devido respeito, suas maldades não chegam nem perto das de Malvina e Soraya.
  5. Mocinhos, Chernoboys e idiotas. É, nem tudo são flores. Muitas das situações protagonizadas por Jorge Luis, Sergio e Luis Fernando são tão datadas que, se por acaso o SBT arriscasse uma nova reprise de qualquer uma das Marías, os três seriam automaticamente cancelados pelo "tribunal das redes sociais". Mas há uma grande diferença entre seus intérpretes. Arturo Peniche, o Jorge Luis de María Mercedes, continuou sendo um ator tarimbado no México, apesar de ter feito um heroi nada perfeito. Fernando Colunga, depois de ter feito duas novelas e participado de mais duas entre 1992 e 1995, só ficou conhecido mesmo depois de Maria do Bairro. Fez um Luis Fernando com tamanha credibilidade que nem dá pra notar que ele era um ator muito verde na época, fazendo apenas galãs empostados até um certo tempo e continuando com esse estigma, principalmente depois do remake de Paixão e Poder, produzido em 2015. Já Eduardo Capetillo, o Sergio de Marimar, foi uma boa saída da zona de conforto do ator e cantor, que começou a atuar em 1986, na novela de época Martín Garatuza, mas (com o perdão do trocadilho) só alcançou o status de estrela em Alcançar Uma Estrela, sob a produção de Luis de Llano Macedo em 1990. Na verdade, exceto por Camila, em 1998, Sergio foi o único protagonista que Eduardo não precisou interpretar cantando no meio da novela. E sim, o Sergio era um pouco menos "Chernoboy" que os outros dois, mas não deixou de sê-lo.
  6. A magia das novelas rosas. Não basta ser uma novela rosa, tem que ser bem produzida, com todas as loucuras possíveis e inimagináveis. Quem ia esperar, por exemplo, que Valentín Pimstein iria recorrer a uma cena de Rosa Selvagem em María Mercedes? Foi o que aconteceu. Também tivemos a clássica cena dos papeis na lama em Marimar, que chamou muita atenção e foi o principal mote de seus remakes pelo mundo afora. Mas pra bater Maria do Bairro no circo da fantasia, o produtor tem que comer muito arroz com feijão... ou ser o Emilio Larrosa (😀😁😂). Ver a vilã morrer tragicamente e ressuscitar sem sentido algum ou protagonizar um escândalo épico contra Alicia (Yulianna Peniche), a "lisiada" da história, é só uma pitada do que você vê em María la del Barrio e não encontra coerência.
Enfim, estes são alguns dos muitos pontos que ajudam a explicar o sucesso das três Marias pelo mundo afora.

Findado o assunto, encerro este artigo deixando diversos agradecimentos: primeiro a Deus, porque, se não fosse por ele, nem vocês estavam aí e nem eu estaria aqui; a cada um de vocês que visualizou e/ou compartilhou algum dos meus artigos deste ou de meu outro blog, o Variante; e a cada um de vocês que já seguiu em alguma oportunidade o meu trabalho no Blogger, mas em especial, aos amigos Êgon Bonfim, Denis Ribeiro Lima, Kleber Nunes e, mais recentemente, Maurilio Pasquini Neto e Dabyh Cinacchi. Vocês são parte fundamental do trabalho deste reles pecador mortal que lhes fala.

Muito obrigado, de coração, por estes 200 artigos e 8 anos de TVer Ou Não TVer, a serem completados dia 16 de dezembro.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

OPINIÃO: O padrão RedeTV de qualidade

O patamar atual da TV aberta brasileira

Canal 21 exorciza a IURD; Globo mantém reprises às duas e meia