70 anos: a TV brasileira está na idade certa?
A Globo tem concorrentes... fora da TV aberta!
Preciso desabafar: me desiludi com a televisão brasileira. É certo que o panorama atual jamais apagará o que foi conquistado no passado, que parecia ser mais esperançoso do que agora, apesar da televisão ser, como diria Jô Soares, um "carroção a jato" na época. Porém, o que se vê hoje na frente das câmeras (e sobretudo nos bastidores) já não nos dá a alegria e a satisfação de um dever cumprido quando se escreve um ou mais artigos falando a respeito da TV nos dias atuais.
A pandemia nunca foi e nunca será a razão maior da crise existencial da televisão brasileira. Afinal, não se pode culpar apenas o COVID-19 por todas as barbaridades que nós, seres humanos, cometemos. Por isso, o meu diagnóstico já está feito: a televisão aberta, que teima em evoluir e rejeitar certos costumes que ainda mantém, que tem concessões e proprietários amarrados a posições políticas, religiosas e sociais, que se apega a detalhes que agridem à mente e à inteligência do telespectador a nível nacional, que se destrói aos poucos seguindo velhas práticas corroídas com o tempo vendo a internet taxá-la de ultrapassada... está sim na idade certa.
Se fosse um ser humano de 70 anos, a TV aberta teria a teimosia de Silvio Santos, a avareza de Roberto Marinho, o amor ao dízimo do Edir Macedo, a relutância de Johnny Saad e o politicismo "acima de qualquer coisa" de Marcelo de Carvalho. O projeto Uma Só Globo pode ser uma porcaria analisando friamente o negócio todo, mas pode acabar levando a Globo a patamares que as demais emissoras, chamadas (com certo deboche) de "concorrentes", correm o risco de jamais alcançarem.
Embora o monopólio global nos esportes esteja igual ao sucesso de Anitta, ou seja, se esvaindo aos poucos, a Globo continua sendo líder na preferência do público. Apesar de todos os erros que tem cometido ao longo de sua história, a emissora e seu conglomerado (o Grupo Globo) estão se esforçando porque almejam, de alguma forma, chegar a um nível cada vez mais alto nas comunicações. Aliás, o Uma Só Globo não é uma das oito maravilhas do mundo, tanto que foi até mal-planejado e a unificação do Grupo Globo está acontecendo aos trancos e barrancos. E isso mostra claramente o tamanho do desespero do grupo.
Como bem frisou o amigo Êgon Bonfim em seu artigo mais recente no blog ÊHMB De Olho Na TV (OPINIÃO: Epidemia de Perdas e Danos), "(...) Nossa TV aberta está pedindo pra morrer (...)". Também pudera. Com a internet ganhando terreno a passos agigantados todos os dias, o ambiente se torna caótico dia após dia, ainda mais com essa pandemia que, cá entre nós, já passou da hora de acabar. A Globo ainda é líder porque as "concorrentes" não oferecem atrações dignas de unir qualidade com audiência. Apesar de muitas produções da "concorrência" garantirem míseros 2 ou 3 pontos ibopísticos (porque ainda se matam pra isso, tamanho o ego), a qualidade é o que menos importa em tais produções. E quando a crítica ou muitos colunistas elogiam sem vergonha a qualidade de certos produtos off-Globo (traduzindo, fora da Globo), a audiência não é lá das melhores.
E o pior vem agora: a política exerce influência ampla, total e irrestrita no tocante às concessões de emissoras de televisão aberta no Brasil. Instalar uma emissora de TV aberta no país, seja esta afiliada às grandes redes ou seja independente, se tornou perigoso demais, pois mantê-la no ar pode criar uma guerra de trincheiras, dependendo da posição política que seu dono exerça.
Não sei se vocês já perceberam, mas as maiores redes se dividem em três grupos: a Globo, que aos poucos está enveredando para a esquerda (não custa lembrar que isso se deve ao ranço incontido de Bolsonaro desde 2007 e que Edir Macedo o apoia assim como apoiou o PT no passado); o grupo SIMBA Content, a saber, SBT, RecordTV e RedeTV, que apoia Bolsonaro cegamente (o que explica o aumento das verbas publicitárias do governo à esse grupo); e os que ficam neutros, ou em cima do muro. Mas esse grupo é raro. A Band até tem negócios com a maior emissora estatal da China, só que, a meu ver, não deve ser comunista ou coisa parecida. Se a Band fosse realmente comunista, o Datena já teria negociado com o Silvio Santos de olhos fechados.
Mas a questão política é apenas um dos vários problemas que o veículo que este país desbravou há 70 anos (a serem completados na sexta 18) precisa resolver para continuar vigente. Mais uma vez, cito Êgon: "(...) a TV brasileira só está convalescente e dependente de medicamentos (...)". Mas, como estamos no Brasil, sabemos bem como é a política de medicamentos. Às vezes, demoram a chegar, ou então nem chegam.
Os outros problemas já foram citados e discutidos com êxito e galhardia por vários sites, incluindo-se aí o TVer Ou Não TVer. Formatos desgastados, falta de ousadia, despreparo de executivos, falta de desprendimento, enfim... tantas pedras no caminho que deviam, até agora, ser retiradas de circulação e que não vale mais a pena falar. Aliás, a TV atualmente está em dois patamares: o novo (os streamings, com a Globo querendo enfrentá-los de igual pra igual, não apenas com o Globoplay) e o antigo (as demais grandes emissoras se digladiando pra ver qual das piores grades é a 2ª melhor na audiência popular). Pronto, já lhes expliquei sobre a imagem que ilustra esse artigo e, por tabela, confirma com o que Êgon já escreveu no dele.
E é bom frisar: tudo o que eu pretendia escrever sobre o futebol ele já escreveu lá. Basta clicar no nome do artigo acima pra você dar uma olhada. Pra arrematar: acho que foi semana passada que um executivo da Globo (cujo nome não me recordo) disse a um portal de notícias sobre a televisão que os concorrentes da Globo são a Netflix, a Amazon Prime, o Disney+ (que já deve estar funcionando aqui no Brasil)... E vocês acreditam que a Globo tem razão? A internet está matando a TV aberta. E já que as outras não se mexem como deveriam pra serem "maiores que a Globo", a Vênus Platinada vai concorrer em outro lugar. Só quem é 100% alienado mentalmente pra discordar.
P. S.: eu só produzi três episódios do podcast que falava (eu disse "falava") dos primórdios da TV no Brasil. A produção ficou totalmente inconsistente, devido à proliferação de podcasts falando sobre o mesmo assunto: os 70 anos da TV brasileira. Então, parei de fazer. Provavelmente eu grave os demais 7 episódios que faltam, mas se vou fazê-lo ou não, aí já são outros 500.
Minhas impressões sobre mais esta singular postagem:
ResponderExcluir1 - Agradeço pela moral, pela citação e pelo convite de poder contribuir com este blog, Gian! Tô afogado com os futuros posts do meu blog bem como a edição de vídeos que voltarei a subir no meu canal no YT. Quando estiver menos atabalhoado, escrevei o capítulo dos "traidores" em "O SBT Faliu".
2 - Não há motivo de festa pra esses 70 anos da televisão brasileira. Lamentavelmente. Principalmente pelo que tá sendo vivido e presenciado. Até a festa da Pró-TV foi cancelada. E ela precisa muito de ajuda como eu publiquei na minha comunidade do YouTube.
3 - O Coronavírus não é o bode expiatório número 1 da crise atual na TV brasileira, pelo contrato, a pandemia tirou o filtro e expôs os problemas de todo mundo, só que o orgulho de certas pessoas ainda continuam e não lhes permitem a rever seus conceitos. Tipo torcedores fanáticos dos grandes times de futebol, que acham que seus clubes (com ritmo alterado pós-paralisação) são mais "poderosos" que o "tal" COVID-19.
4 - Bem observado o trabalho altamente questionável das "concorrentes" com audiência tão deprimente e mal medida pelo IBOPE (outra empresa de comunicação visivelmente parada no tempo, cadê a CPI do IBOPE?), a ponto de ter uma classe de colunistas (os mais conhecidos do público, obviamente) todinha a favor delas. Vide SBT e seu proprietário em época de Troféu Imprensa, aí já é "torcida organizada".
5 - Montar um canal de TV hoje em dia não é um bom negócio a muito tempo, a política agravou ainda mais as coisas e estragou tudo, e por mais que você elabore boas ideias em termos de conteúdo de programação, a concorrência do mal sabe se armar (e isso não é segredo pra ninguém), fazendo do público seus reféns para sempre (sensacionalismo que o diga, hoje é tão desnecessário a ponto de beirar o ridículo).
6 - No Brasil de hoje, parece que não vale mais a pena ser neutro. Eu sou insuportavelmente neutro e muito pilhado com as sombras que me vêm a "esquerda" e a "direita". Esse rótulo "em cima do muro" é de gente que adora polarizar as coisas, mesmo sem haver necessidade e precisam urgentemente procurar um psiquiatra.
7 - O Disney+ será lançado no Brasil em novembro e já tá agitando o mercado de streaming no exterior porque se volta a um "esquecido" público que certas mídias audiovisuais estão ajudando a destruir no Brasil: a família. Falando em streaming, só falta agora a Globo encarar o YouTube como seu novo concorrente, é só lembrar do "Caso Pedro Janov" e o tremendo strike que ele levou da dita cuja.
8 - Pra encerrar: a internet engoliu tudo, do rádio a mídia escrita, até a linguagem descolada das redes sociais virou tendência a ponto de ser abordada nas aulas de Português. E a TV aberta brasileira só vai morrer definitivamente (já começou a morrer em 18/07/1980 com o fim da TV Tupi) quando o Silvio Santos morrer também. A verdade dói. E no andar de cima (obrigado Miguel Falabella) estão fazendo a contagem regressiva pra ele (10, 9, 8...).
Espero que a TV tradicional dure pra sempre
ResponderExcluirAssim seja.
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