A Band ressurgiu das cinzas?

A estratégia de guerrilha da Band é boa, mas há três problemas que precisam ser sanados antes de 1º de janeiro


Algum de vocês se lembra de quando a Band deixou de transmitir futebol pra transformar o Datena e o saudoso Boechat em carregadores de piano, lá pelos idos de 2014? Pois é, esse tempo parece que ficou no passado. A quarta força de São Paulo quer deixar de vez este título pra colocar o SBT no 4º lugar e rebaixar a Record pro 3º a curto prazo e disputar com a Globo a liderança de audiência a médio, coisa que, se bem orquestrada, pode dar certo já a partir de 2022.

O editor-chefe do RD1, João Paulo Dell Santo, disse exatamente quais são os passos já tomados para o primeiro semestre do ano que vem:
  • Fórmula 1 a toda velocidade;
  • negociações em curso para a aquisição de campeonatos de futebol;
  • a volta de Fausto Silva, uma das maiores estrelas da TV brasileira;
  • investimentos no humor com um humorístico estrelado por Leandro Hassum e o lançamento do Perrengue, ex-Encrenca;
  • conversas em estágio avançado com Marília Gabriela;
  • o reforço de peso de Adriana Araújo para o Jornal da Noite;
  • o Mil e Uma Perguntas, um game show com Zeca Camargo;
  • um novo formato para O Aprendiz, com Roberto Justus;
  • novos projetos com Ticiana Villas Boas, atualmente envolvida no Duelo de Mães;
  • a versão com celebridades do MasterChef, cuja renovação dos direitos está encaminhada;
  • mais tempo para o Craque Neto e Os Donos da Bola;
  • um novo Jornal da Band, com formato diferenciado do que toda a TV aberta faz hoje;
  • novidades no Melhor da Tarde, de Catia Fonseca;
  • o latente desejo de reativar o departamento de dramaturgia, com novelas, séries e sitcoms produzidos na casa;
  • um namoro que pode terminar em casamento com mais uma estrela da RedeTV;
  • reforma dos estúdios e do parque tecnológico, novos e modernos equipamentos;
  • contas no azul, e com dinheiro em caixa.
Segundo o mesmo João Paulo, a arrancada da Band nos faz lembrar a mesma arrancada que a Record deu lá em 2004, aproveitando-se da crise interna do SBT que acabou tirando-o da sua posição de conforto e beliscando a liderança contra a Rede Globo. Porém, ah, porém... há três obstáculos que devem ser superados antes da virada do ano para que o grandioso projeto bandeirantício dê certo. É bom detalhá-los do mesmo jeito que fiz no artigo sobre a Globo.

1. José Luiz Datena. Este obstáculo, dessa vez, parece ser uma caixinha de surpresas. Antes, quando ele sinalizava que ia se candidatar, metia o pé no freio e falava não. Agora, parece que o negócio vai pra frente. PSL e DEM não se fundiram ainda, apenas formaram uma federação: a União Brasil 44. Se esta federação resultar em coligação ano que vem, Datena pode até se candidatar, se o DEM não resolver se impor e colocar Mandetta ou Pacheco como candidato da provável coligação. Fato é que, se confirmada a saída de Datena para a disputa das eleições, todo o projeto aí em cima, que não prevê nenhuma mudança no Brasil Urgente embora estivesse todo calcado nele, pode ser jogado por água abaixo. Quando sua pré-candidatura é rejeitada pelo partido ao qual se filia, Datena sempre põe como desculpa que o Johnny Saad não quis. Vamos ver se essa desculpa vai colar com a grade nova da Band e as eleições pegando fogo ano que vem.

2. Diego Guebel. O diretor argentino está de volta à Band como diretor artístico da casa, cargo vago desde a saída conturbada do português José Eduardo Moniz, no ano passado. Guebel foi o responsável por trazer êxitos como CQCPolícia 24h e Masterchef, enquanto falia a Cuatro Cabezas, empresa da qual era sócio. Em 2018, ele finalmente meteu o pé e saiu da casa. Felizmente, pois sua passagem, embora vitoriosa no que se refere à audiência, foi totalmente conturbada devido ao caso Danilo Gentili, quando da transferência deste para o SBT, na calada da noite. Guebel, em represália, não liberou nenhum artista da casa para seu programa ou para qualquer outro do SBT, inclusive o Teleton. Sua volta à Band fez com que as velhas práticas finalmente fossem postas em prática. A julgar pelo nariz empinado do argentino, todo esse projeto de grade pode ir por água abaixo caso ele resolva se encasquetar com algo ou com alguém lá dentro.

3. RR Soares. Sim, insisto nesse argumento. De nada adianta ter um projeto vitorioso nas mãos se manter os mesmos lixos televisivos na grade. Na programação da emissora, aos sábados e domingos, enquanto as afiliadas transmitem suas produções locais, a Band SP lança mão de produções próprias, sobretudo quando não há transmissão da Fórmula 1. Nesse ínterim, eu pergunto: será que não é uma boa hora pra reprisar conteúdos que foram prometidos pro Bandplay e acabar com esse aluguel de horários que só joga a Band pro traço? Todo mundo sabe o estrago que esse missionário causou no IBOPE, não importa se ele é bom pagador ou não. O projeto de grade que está acima trará audiência e faturamento, mas pra isso, é bom que o faturamento venha das empresas que queiram anunciar na emissora, e não das igrejas neopentecostais às quais a Igreja da Graça se inclui. Ele já tem a RIT e as afiliadas do SBT e da Band no Mato Grosso do Sul e investe nelas, então pra quê continuar destruindo o IBOPE das emissoras maiores? Se a iniciativa não partir do missionário, deve partir da Band.

Se esse planejamento todo que foi detalhado nesse artigo não der certo, veremos na Band o desmonte que aconteceu na Record quando o casal blindado Renato e Cristiane deu um golpe no bispo Honorilton Guimarães e começou a transformar a "emissora de placa de igreja" naquilo que eles sempre sonharam que ela deveria ser: uma emissora doutrinadora dos princípios da Igreja Universal do Reino de Deus.

Em outras palavras: se a inclinação política do Datena, a arrogância do Diego Guebel e o próprio RR Soares como um todo não forem considerados um problema, essa estratégia de guerrilha da Band será o problema.

Comentários

  1. * Nunca na história recente a Band teve ambição para beliscar posições no ranking das emissoras. Lembro que em 2001 mudou a postura da programação e a tendência era descolar pontos a mais em audiência do que subir de posição no ranking geral. No hiato entre o fim da TV Tupi e o início do SBT, a Band teve a chance de obter o segundo lugar isolado, mas desperdiçou: o saudoso Guga de Oliveira (irmão do Boni) tinha saído (não sei qual a causa, mas ele foi o responsável pelo investimento que a Band fez no final dos anos 70 e até deu resultado) e inventaram de pôr o Walter Clark para ocupar o cargo. Só que com uma" grade cabeça", a Band entrou em crise e viu o SBT rir por último.

    * Foi bom você ter enumerado os fatos que podem fazer a Band crescer, os que mais me agradaram são as negociações com a Marília Gabriela (tava até pensando nisso outro dia, ela tem história da emissora), dos campeonatos de futebol (que a Band parou em 2016), mas tem que negociar em blocos com o oligopólio CBF/Globo pro futebol ficar mais democrático (falando nisso, você deve um artigo sobre a ida dos Estaduais pra Record, sem dúvida as afiliadas estão fazendo uma força tarefa para ter todos os 27 a seu poder, ainda mais contando com Paulistão e Cariocão). Se der certo a volta do futebol brasileiro de elite na grade, a Band podia também trazer de volta o narrador esportivo Jota Júnior (atualmente no SporTV), ele tem história na emissora e merece retornar, já que o SporTV, bem como o Grupo Globo, tem essa política de "renovação de valores".

    * Outro artista que a Band podia trazer de volta seria o próprio Danilo Gentilli. Ele se tornou tão supérfluo no SBT que enquanto estiver liderando o "The Noite", causará dores de cabeça com piadas maldosas (por mais que ele seja "protegido" dos Abravanel) que resultam em processo, à ponto de alguém da TV Aratu, eu acho, ter criticado faz tempo uma atitude polêmica do ex-CQC ter esfregado uma ata de processo lá no fiofó em rede nacional. O SBT podia colocar alguém mais "simpático" para assumir o "The Noite", tal como Otávio Mesquita, ele é amigo dos artistas e já apresentou um talk-show semelhante na Record em 1992, olha aí o desperdício que o SBT tá fazendo. Quem sabe nesse plano todo, a Band não cogita voltar com o "Agora é Tarde" com seu apresentador original.

    * Quanto ao Datena se candidatar, acho difícil porque ele é muito crítico com os políticos. Foi a mesma coisa em 2016 e/ou 2020 quando espalharam fake news de que ele disputaria a prefeitura de São Paulo. Ele se acomodou num sistema que, mesmo almejando novos horizontes à sua carreira, ninguém quer vê-lo fazer outra coisa a não ser bufar no ar todo santo fim de tarde reclamando das ocorrências do dia. A Band jamais renunciará à audiência que ele dá, só falta ele ser sócio dos Saad. Nesse ponto, é mais fácil a chapa Silvio Santos/Tiririca ter seu registro aprovado pelo TSE rumo as eleições do que o Datena se afiliar a qualquer partido político, do PMDB ao REDE (inventaram até que ele tinha entrado pro PTB pra concorrer a eleição municipal). Conclusão: Datena vai morrer no estúdio.

    * Dos três problemas a serem sanados, não gostei nada do fato desse gângster ter retornado a direção da Band, pois vai voltar a bater na tecla de versões brasileiras à risca dos formatos que ajudou a criar na Cuatro Cabezas podendo até inventar um "CQC Nova Geração", pois nunca se sabe a merda que vai sair da cabeça desse Diego Guebel (e se o Faustão pegar birra dele?). Quanto ao missionário, é outra coisa que a Band jamais se desapegará enquanto ela estiver no ar (assim como o "Brasil Urgente"), pois se não tiver mais espaço pra ele, joga-o na madrugada, pois tá mais do que na hora da Band abrir seu horário nobre para as produções "da casa". O "Boa Noite Brasil com Faustão" tá aí pra comprovar. O Magazine Luiza e os Colchões Castor, bem como outros anunciantes marcantes que estão na palma da mão do ex-gordinho, estão doidos para adquirirem uma cota desse novo programa.

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  2. * Com praticamente tudo ajeitado, a única coisa que falta pra eles é voltar a produzir novelas. É como diz o Boni: "Um programa levanta a audiência de uma emissora, mas uma novela muda o patamar da mesma". Quem é que dava moral pra Manchete antes do Pantanal? Quem é que enxergava o SBT, além do povão, como chamariz pra anúncios antes do Carrossel? Quem é que colocava a Record pós-Ratinho como emissora capaz de beliscar a liderança contra a Globo antes do remake de A Escrava Isaura? Eu penso que a Band, por mais instável que seja, está fazendo aquilo que a Globo deixou de fazer: planejamento agressivo.

    * Eu não enumerei os pontos, até porque eles já estavam enumerados no artigo do RD1. Mas, como eu já lhe disse outra vez, eles não vão ouvir a gente. O futebol bloco por bloco é uma ideia que, lhes garanto, não vai morrer. Mas e o medo de perder dinheiro? Se depender desse fator, garanto que será muito difícil do oligopólio CBF/Globo ser flexível em relação a isso. E quanto ao Jota Júnior, a Globo com certeza vai fazer de tudo pra mantê-lo na TV fechada com medo dele voltar pra Band.

    * O terceiro e o último ponto são interligados. O Danilo Gentili não pisa na Band por causa do próprio gângster, assim como ninguém da Band vai pisar no SBT. Pelo menos, essa punição vai valer a partir do Teleton. | Concordo que o Gentili seja supérfluo na grade do SBT, tanto é que ele pode fazer o que quiser que ninguém tá nem aí. Também concordo que o Otávio Mesquita possa assumir o The Noite, mas não vai ser a mesma coisa. Por mais que o Otávio tenha muito mais tempo de carreira e timing pro negócio, calculo que muitos telespectadores o achem "chato" desde os tempos do Perfil, e mesmo alguns artistas pensam dessa forma.

    * Não eram fake news, é sempre o Datena que joga essa ideia no ar: "Vou me candidatar a tal cargo". Dali a dois ou três dias, ele vem com várias desculpas pra ter mudado de ideia: ou porque o Johnny Saad não quis, ou porque o partido tá em crise, ou porque é melhor defender o povo na TV que na política, enfim... O Datena é um político raiz, só não se deu conta disso até agora. Na aparência, até parece um novo fogo de palha, mas ao que tudo indica ele vai mesmo ser candidato. E pelo PSL, partido ao qual ele já está filiado desde meados desse ano.

    * Pois é, não pensei nisso: o gângster pode ter sérios problemas com o Faustão, isso se o mesmo Faustão já não tiver sido blindado pelo Johnny. Mas se fosse por esse critério, o Faustão já teria pedido as contas antes mesmo de estrear. Não duvido que o Guebel já tenha se abespinhado com o Faustão. | E quanto ao missionário, jogá-lo na madrugada (1h30 às 3h45, como estão planejando) será um risco pros jornais que vêm antes (Jornal da Noite) e depois dele (Primeiro Jornal). O 1º Jornal sofre pra dar 1 ponto e meio, imagina se o RR Soares é incluído aí... Os telespectadores que ainda têm paciência pra ver TV aberta de madrugada já estão cansados de ver telecultos. Aqui no Paraná, mesmo, a Igreja da Graça só disputa a audiência com a IURD, porque até a Rede Massa vendeu espaços de madrugada pro RR, e continua exibindo-o há 8 anos. A Globo nada de braçada com os filmes do Corujão dando entre 3 e 5 pontos de audiência. Repito: manter o missionário no ar, apesar do faturamento, é um risco grandíssimo pro planejamento da Band.

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