Carta aberta à presidente do SBT
Cara Sra. Beyruti:
É com pesar que venho a lhe escrever esta carta aberta no dia de hoje. Peço que, antes de mais nada, me perdoe se, por acaso, eu vier a ofender suas convicções, seus ideais ou seu modo de agir no que tange à programação do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT. Mas V. Sa. há de convir que não vale a pena exercer as velhas práticas do nosso saudoso Silvio Santos, vosso querido pai, em relação à grade da emissora. Quando era ele quem agia desta forma, originando a famigerada expressão “grade voadora”, muitos até achavam graça das bizarrices que ele orquestrava. Mas, sem ele, tudo perdeu a graça. Até a utilização desse método.
Se o intuito de V. Sa. era, segundo suas palavras, trazer o SBT de volta à condição de “a TV mais querida do Brasil”, V. Sa. está, todavia, conseguindo o indesejável efeito reverso. Os telespectadores, muitos dos quais já haviam fugido da emissora levando consigo suas distrações a outros canais ou aos streamings, continuam revoltados a cada nova investida de V. Sa. na programação. Cabe lembrar que a mais recente foi o cancelamento, após 5 capítulos, da novela mexicana Eternamente Apaixonados, cujas tentativas de abafamento, como a chamada conclamando os telespectadores a acessarem o +SBT para acompanhar o restante da história, ou o teaser descarado da também mexicana As Filhas da Senhora Garcia, cotada para substituir A Caverna Encantada, não deu certo. O que se viu foi uma enxurrada de críticas à vossa gestão. Aliás, já há muito tempo, o SBT vem sendo alvo de críticas de muitos. Inclusive das minhas, sendo que a minha ligação com a emissora é muito mais íntima do que parece: nasci um dia antes do SBT completar 15 anos. Ou seja, posso falar com propriedade que o jeito de gerir a programação que V. Sa. acha certo não é o mesmo jeito realmente certo de geri-la.
Tanto é verdade que, desde que o eterno Patrão era vivo, mantenho neste despretensioso blog uma novela-reality, chamada O SBT Faliu, cuja única função é levar a público as mazelas que tanto a gestão dele quanto a vossa têm feito acontecer, sendo estas as passíveis de críticas. Inclusive, as vossas péssimas tomadas de decisão foram abordadas pela novela-reality em questão. Portanto, se quiser ao menos evitar críticas de mim ou de qualquer outra pessoa, peço, sem exigir nada em troca, que V. Sa. atenda a pelo menos estas três sugestões que lhe faço a partir de agora:
- Adiantar a grade do horário nobre e atrasar a da tarde
Pra começar, A Caverna Encantada não consegue sair dos 2 pontos à tarde. Poderia ser mantida apenas à noite, só que em horário mais favorável (sobre isso falo ainda neste tópico). A grade local poderia ser colocada entre 11h e 14h30, sendo que, para São Paulo, aumentaria em meia-hora a duração do Alô Você, e Chapolin e Chaves deveriam ocupar, juntos, o horário entre 13h30 e 14h30. A volta do Casos de Família é pertinente, mas como demorará a acontecer, os doramas que são vossa aposta pessoal poderiam ser alocados entre 14h30 e 15h30, sendo seguidos pelo Fofocalizando, que poderia ocupar a faixa entre 15h30 e 17h. E aí, às 17h, caberiam as reprises das novelas mexicanas até às 18h.
Dito isso, passemos ao horário nobre. É inconcebível que um jornal informal como o SBT Brasil tenha uma hora de duração. Sim, informal, porque a condução exercida por César Filho não ajuda em nada. Aliás, ele poderia ser o comandante do Primeiro Impacto, imprimindo seu estilo às manhãs da emissora. Sua sucessora no SBT Brasil poderia ser Simone Queiroz, que comanda o jornal aos sábados e o faz muito bem, com toda classe que um telejornal de começo de noite merece. Levando tudo isso em consideração, a grade local do fim de tarde poderia começar às 18h, com os Tá Na Hora locais, e terminar às 19h30, entregando direto para o SBT Brasil, que poderia terminar às 20h15. Aí, já em rede nacional definitiva, o Chaves entre 20h15 e 20h40, A Caverna Encantada entre 20h40 e 21h20, o Chapolin entre 21h20 e 21h45 e, logo após, o Programa do Ratinho e o restante da programação.
- Reestruturar a faixa nobre
Com a faixa nobre começando às 22h45 e terminando à meia-noite ou à 00h30, a disposição desta poderia ser levada a cabo da seguinte forma:
– às segundas, voltaria ao dia normal o Arena SBT, que seria exibido até meia-noite. Esta atração poderia ser flexível em semanas de Sul-Americana. Explico: nas terças de Sul-Americana, o Arena SBT não seria exibido às segundas, e sim após o jogo transmitido, imediatamente, às 23h30, entregando à 00h30 para o The Noite.
– às terças, o Cine Espetacular seria mantido na grade, terminando à 00h30, sendo exibido às segundas em dias de Sul-Americana.
– às quartas, se eu fosse V. Sa., alocaria o Esquadrão da Moda, terminando à meia-noite. Convenhamos que o sábado já não é mais o lugar deles.
– às quintas, eu colocaria o SBT Repórter (com o César Filho) até meia-noite.
– às sextas, a Tela de Sucessos até 00h30.
Já aos sábados, a faixa entre 20h15 e 22h30 poderia ser preenchida assim:
– às 20h15, permaneceria o Chaves (só que em exibição tipo “Especial”, como foi entre 2002 e 2003);
– às 21h15, ou quando acabasse o Jornal Nacional, até como estratégia de programação, colocaria A Praça é Nossa, que pontuaria até melhor neste dia, entregando direto para o Sabadou.
- Retomar a produção de novelas “adultas”
É bem verdade que Dona Íris fez sucesso escrevendo as novelas infantis da grade, mas levando em conta que este nicho está desgastado e que a própria Dona Íris começou sua carreira escrevendo uma novela considerada “adulta” (a inesquecível Revelação), por que não utilizar o acervo da saudosa Janete Clair, ao qual acredito que o SBT ainda tenha acesso, ou o acervo da própria Televisa para produzir adaptações, como foram as produções entre 2001 e 2007, ou como Vende-Se Um Véu de Noiva, de 2009, ou como Corações Feridos, produzida em 2010 e exibida dois anos depois como antecessora, acredite, de Carrossel?
Sugiro um esquema de produção diferente, bem ao estilo do que a Globo vai fazer: novelas curtas, com no mínimo 60 e no máximo 90 capítulos, com tempo de arte de 30 minutos, só que incluindo-se aí 10 minutos de comercial (pois seriam exibidas às 20h40), com tramas ao estilo do que o próprio SBT está acostumado ao fazer: água-com-açúcar puro, com personagens bem delineados, do jeito que a Televisa faz desde 1973, quando nasceu da fusão do Telesistema Mexicano com a Televisión Independiente de México, e do jeito que o SBT fez em seus tempos áureos. Trazer o Henrique Zambelli de volta pra dividir a responsabilidade destas adaptações com a Dona Íris seria uma grata surpresa.
Não lhe peço mais do que isso. Óbvio que muitos SBTistas de carteirinha pediriam coisas mais extremas, alguns até exigindo algo de V. Sa. Eu, por outro lado, como sou mais contido, não lhe exijo nada, apenas fiz estas sugestões. Se V. Sa. realizá-las, lhe agradecerei imensamente.
Certo de vossa compreensão, agradeço.