Já vai tarde, Faustão!
Texto de Êgon Bonfim
Durante 32 anos, ficamos acostumados a ouvir a habitual despedida de Fausto Silva ao encerrar mais uma edição do Domingão do Faustão: "Agradecendo a sua audiência e a sua paciência". Faz sentido, principalmente a segunda parte da frase, é a paciência de aguentar o mesmo apresentador, preso a escola do rádio, puxando o saco de um formato que se desgastou com tempo e que só serviu para reforçar a teoria da superstição ibopística Global. Superstição esta que levava a inflacionar seu salário para impedir sua iminente saída. Mas agora, a bolha estourou de vez.
Quando todos imaginavam que o Domingão do Faustão estaria garantido na programação Global até 2026, o mundo da televisão se estarreceu com a notícia recente de que Fausto Silva cansou. Sim, ele cansou! Os quatro anos renováveis com a Globo previstos em sua cláusula contratual incluindo aí seu costumeiro inflacionamento salarial foram, finalmente, descartados para alívio de um público que não tinha absolutamente nada para assistir na TV num dia que se consagrou como o pior dia da semana para se assistir televisão, o domingo.
Teremos ainda um ano pela frente para termos a PACIÊNCIA de aguentar o Domingão do Faustão. Até lá, muita coisa será resolvida, principalmente à respeito do futuro da programação dominical Global. Mas Fausto Silva está certo, finalmente teve uma atitude digna de um profissional de verdade do que apenas consentir com aqueles truques para jamais perder o primeiro lugar de audiência como prova de absoluta fidelidade ao Grupo Globo. Ele próprio já não mais aguentava apresentar o programa (só reparar na cara dele nesses últimos 25 anos), que tinha o dedo da alta-cúpula Global para neutralizar uma concorrência constrangedora. Hoje, os concorrentes não passam de "crianças mimadas" se comparando a um verdadeiro sobrevivente da guerra de audiência que durou de 1997 a 2003 (entendedores entenderão).
Falamos no primeiro parágrafo sobre a forte influência da escola do rádio em Fausto Silva. Isso a gente nota em sua voz radiofônica, seu chavões costumeiros, a média barata que faz em relação aos membros do cast Global e aos grande nomes da música brasileira, a insistência em convidar imitadores para participar do programa dele, e suas piadas atravessadas que, se faziam rir nos anos 90, hoje não colam mais para um público cada vez mais mimizento e às vezes intolerante diante de um comportamento desrespeitoso. Resumindo: em 32 anos, todo muito ficou com o saco cheio, como Faustão tinha previsto no teaser de estreia do seu programa, ainda mais ao ouvirmos as mesmas palavras disparadas pelo mesmo: "Tanto no pessoal, quanto no profissional, é mais do que nunca, um exemplo de dignidade. Especialmente pra galera, olha aí! Eeeeeeitaaaa!"
Os grandes aliados de Faustão, isto é, o elenco Global, as trilhas de novelas e as manjadas vídeocassetadas, sem contar um outro quadro aqui e ali, foram os grandes responsáveis pela sua inabalável liderança de audiência que obtêm semanalmente. Se nos anos 90 era divertido assistir ao Domingão do Faustão, independentemente dos artistas que lá participariam, hoje na terceira década do Século XXI, não é mais aquela mesma coisa. Esta década que provocou e ainda vai provocar grandes transformações num veículo despreparado para se prevenir da pandemia, já está testemunhando uma delas: o Domingão do Faustão vai sair do ar. E quem vai substituí-lo?
A mídia segmentada, que adora inventar boatos e se vale pela camisa e pelo IBOPE, já vêm criando uma série de especulações, inclusive muitas delas nada a ver de gente com horários cativos e consolidados em suas respectivas emissoras e que jamais imaginaríamos vê-los na emissora-líder. Rodrigo Faro só sai da Record de uma forma: dentro de um caixão. Os bispos vão tratá-lo da mesma forma que a Globo tratou o Faustão esse tempo todo. O mesmo seja dito de Celso Portiolli e Eliana, já que tal atitude de ambos seria vista como "traição" ao "Quarteto Fantástico" e seus leais seguidores SBTistas. Luciano Huck é carta fora do baralho porque ele não sabe se vai mesmo entrar na política ou continuar carregando o piano das tardes de sábado da Globo (olha aí o comodismo salarial). Dois nomes seriam mais coerentes nesse panorama todo: Xuxa e Tiago Leifert.
Porque Xuxa e Tiago Leifert? Uma está prestes a voltar para sua segunda casa depois de uma passagem constrangedora pela prepotência televisiva e sua intensões descaradamente monopolistas. Sua contratação não passou de materialismo barato e sua volta significaria compensar o atraso de cinco anos em não ter feito um trabalho substancial que fosse mais a sua cara e que agradasse em cheio sua legião de fãs. E o outro, por mais que tem gente não goste dele com aquela "cara de babaca", porque tem família influente trabalhando na Globo há muito tempo e sua vinda do nada ao mundo da TV nos levou a seguinte conclusão: pisou, ficou, jamais sairá. De tanto apresentar realities, ser promovido na grade dominical representaria um "salto na carreira", apesar de não tolerar críticas nas redes sociais como foi notado pouco antes da estreia de mais uma temporada do Big Brother Brasil.
Então, cogitamos que a partir de 2022, a programação de domingo da Rede Globo fique dessa forma:
09h00 - Esporte Espetacular
12h45 - Xuxa aos Domingos (uma espécie de Planeta Xuxa reformulado, junto com um programa de domingo que ela comandava em 1993)
15h45 - Futebol (não adianta, esse é o horário cativo das transmissões Globais que agradou em cheio jogadores, dirigentes e torcedores)
18h00 - Domingo com Tiago Leifert (com aqueles joguinhos que o Luciano Huck apresenta todo sábado envolvendo o elenco Global e nomes da música)
20h00 - Fantástico
...e por aí vai.
Explica-se: o volume de produção da Globo é muito alto e nesse ponto é inviável imaginar a colocação de um filme de longa-metragem aos domingos. O Temperatura Máxima não faz mais sentido com filminhos infantis e juvenis que facilmente conseguiriam audiência numa Sessão da Tarde da vida. Tá mais com cara de Temperatura Mínima. Isso reforça nosso argumento de colocar na programação dois shows de variedades separados por uma transmissão esportiva, o sanduíche televisivo. Há quem acredite que, se a Globo continuar inflacionando e monopolizando seus "compromissos" com a CBF, faça a já neutralizada entidade a empurrar o futebol de domingo na TV para as 19 horas, antes do Fantástico. E isso acontecia muito entre 1995 e 1997 com uma audiência até significativa, dependendo de quem jogava e da fase que os clubes viviam no decorrer da temporada.
As TVs concorrentes terão que suar muito a camisa levando em consideração seu volume de produção, orçamento para bancar shows dominicais de variedades (já que o termo "programas de auditório" ficou arcaico demais para os tempos atuais), procura por melhores atrações, melhores cachês, busca por um formato ideal (recorrendo àqueles joguinhos que a Endemol e Freemantle Media põem a disposição pelo mundo), adequação de horários, potencial de audiência de seus quadros de artistas, enfim. A TV brasileira, por mais que muita gente profetiza seu fim, jamais se desapegará dos programas com plateia, formato este que existe desde quando Assis Chateaubriand trouxe o veículo para o Brasil. O que é preciso é começar tudo de novo, reinventar o que já existe e, principalmente, respeitar todos os públicos para evitar de apelar gratuitamente em troca de pontos a mais num IBOPE mal-planejado e tão parado no tempo quanto esses tipos de programas de domingo (e é indício de protecionismo).
O público que assiste televisão é diferente do público que adora uma "zoadinha" nas redes sociais. Não acho justo a TV de hoje em dia ter que se submeter a esses truques da internet para manter seu público cativo, que aos poucos vai pedindo divórcio daquela que fora um dia a "Rainha do Lar". Panelinhas de lacração, pirâmides sociais, minorias mimizentas se fazendo de vítimas, polarização inútil, rebeldia por nada, tudo isso que a "internalização" da nossa sociedade introduziu veio a envenenar justamente a televisão brasileira. Daí é que vieram junto os hackers, os trollers e a geração millenial dos núcleos de mídias digitais (esses nerds sabichões, narcisistas que falam fino e têm sotaque de periferia), que não passam de fã-clubes disfarçados, acham o máximo, não têm opinião própria sobre o assunto e ficam só aplaudindo.
Por essas e outras, vamos esperar os próximos capítulos. Talvez o mais aguardado (e também aquilo que muita gente não gostaria de ver nem em mangá) é: como ficará a programação do SBT caso ocorra o falecimento de Silvio Santos?
A saída de Fausto Silva da Globo já marca o início dessa "revolução dominical televisiva". Novos nomes, novos formatos e novos métodos hão de aparecer nesta década, como também o sumiço da Covid-19, que já causou estragos irreparáveis numa TV brasileira que, somente através da criação de leis, precisa criar juízo.
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