O patamar atual da TV aberta brasileira

Do jeito que está, pode piorar?

Pois é, meus amigos. Peço desculpas pelo inconveniente de ter que fazê-los esperar quase um semestre inteiro pra voltar à ativa. Muitos assuntos particulares têm tomado boa parte do meu tempo. Mas hoje, volto a este despretensioso blog pra dizer a vocês que estou cansado dessa patifaria de ter que ver a TV aberta tentando se transformar no YouTube ou simplesmente retrocedendo ao invés de progredir.

Primeiro, a Globo, que aproveita qualquer oportunidade para encher a tela com culturas internetescas (se é que esta palavra existe), lança mão de anúncios de 10 segundos nas transmissões de futebol (anúncios estes que já cansam as vistas dos torcedores, via internet ou TV) e, quando muito, se aproveita da imagem de influencers cultuados pelas plataformas digitais afora.

Quem está bebendo aos poucos dessa fonte é o SBT. O Sistema não aprendeu com os erros do passado, majoritariamente cometidos por Silvio Santos quando gestor de programação, e na pele de Murilo Fraga, agora nº 2 após a surpreendente demissão de Fernando Pelégio, vem tentando se aproveitar da popularidade de influencers como Virgínia Fonseca e Lucas Magalhães, este último marido do mala-sem-alça chamado Carlinhos Maia, e culpa tudo o que está a seu redor pelo péssimo desempenho da grade. Menos a bosta do Fofocalizando, principal responsável pelo efeito dominó que domina a programação da emissora desde que fora inventado lá em 2016.

A Record, por sua vez, deixou que toda a sua grade se influenciasse pelos seus três principais produtos: o Cidade Alerta, a Hora da Venenosa e os malditos tele-cultos da IURD. O Fala Brasil, por exemplo: hoje, antes de ir trabalhar, o assisti e vi que 55% dos assuntos abordados eram sobre famosos. Até a Fabíola Reipert deu as caras. Já o Hoje Em Dia, ao contrário, é o Cidade Alerta das manhãs da emissora, talvez muito pautado pelo que o Encontro, da Globo, se transformou após a saída abrupta de Fátima Bernardes ano passado. E a teledramaturgia, produzida pela Igreja Universal em parceria com os estúdios Casablanca, virou um sem-fim de Reis, série cuja temporada A Perseguição lhe rendeu umas 8 indicações aos Premios PRODU 2023, uma espécie de Troféu Imprensa da América Latina. E não levou nenhum!

E a Band, uma RedeTV mais açodada, ainda não aprendeu que guardar rancor não leva ninguém a lugar nenhum. Tanto é assim que, até agora, tem alguém incomodado com o fato de Danilo Gentili, seu ex-contratado, estar fazendo no SBT um sucesso maior que o que fazia na Band. Por mais uma vez, honrando o legado de Diego Guebel, não liberou ninguém pro Teleton, justamente por causa disso. Acertaram em estrear o Melhor da Noite, mas erraram ao não adiantar todo o restante da faixa de shows (como fez com o MasterChef) pra exibir uma série que, assim como novelas como Valor da Vida, não agregam público algum.

Sobre a já citada RedeTV, não preciso comentar mais do que a Tatá Werneck já comentou. Aliás, não adianta nada os donos da emissora osasquense reclamarem do chiste (que tem um fundão de verdade, diga-se de passagem). Deviam reclamar é do tanto que o merda do R. R. Soares ocupa espaço na grade. “Ain, mas a crise financeira...” As outras emissoras também estão em crise financeira, mas produzem muito mais conteúdo que a RedeTV. De que adianta ter estúdios enormes e investimento no digital se o que realmente importa, a TV aberta, é simplesmente escanteado pelos donos que se emputecem com uma simples piada-verdade?

O patamar atual da TV aberta brasileira é este. Falta conteúdo, criatividade e vergonha na cara; sobra hipocrisia e inépcia por parte dos executivos. É nesse contexto que, pela primeira vez após quatro anos, anuncio a suspensão por tempo indeterminado do Troféu De Cabo a Rabo. Além dos motivos particulares (e do fato de ter um computador cuja placa-mãe só funciona com apenas um pente de memória), a falta de noção, de sensibilidade e de tato comercial dos administradores dos cinco principais canais abertos do país é que me fez tomar esta drástica e precipitada decisão. Talvez ano que vem haja uma nova edição. Até lá, vamos ver se melhora ou se piora o estado decadente da televisão aberta.